No ano de 1739, na cidade de Guaratinguetá - SP, nasce Antônio de França Galvão, filho de Isabel Leite e Antônio Galvão. O pequeno Antônio viveu em um lar cristão. A Fé, a Esperança, sobretudo a Caridade, foram os grandes ensinamentos dados aos seus filhos.
"Abraçando os queridos pais, deixava a casa paterna em demanda do Colégio dos Jesuítas. O ano era de 1752, o pequeno Antônio possuía apenas 13 anos. Uma longa viagem até o Seminário de Belém, a 130 km de Salvador, Bahia".
Antônio estava no nordeste do país quando recebeu a notícia da morte de sua querida mãe. Isabel Leite, sua mãe, partiu para a casa do Pai no ano 1756, quatro anos após sua partida, em 1752. Faleceu relativamente jovem, com apenas 40 anos. Uma morte foi precedida de uma grave enfermidade.
A Coroa Portuguesa empreendeu uma perseguição e extinção da Companhia dos Jesuítas no Brasil. Todas as obras ligadas a estes religiosos, inclusive o Seminário que estudava o jovem Galvão, foi fechado e sequestrado pela Coroa. Mas antes do fechamento total em 1760, o Antônio retornou a sua cidade de origem, Guaratinguetá, por recomendação e precaução do seu pai.
O noviciado é o período determinante na vida de um consagrado. O religioso deverá cumprir o ano canônico estipulado pela ordem. Após essa experiência, ele deverá professar a forma de vida nas mãos de seu superior. Antônio, agora Frei Antônio, viverá o ano da provação.
Os votos a serem vividos serão: sem nada de próprio (pobreza), obediência e castidade, na Ordem dos Frades Menores (OFM). Frei Galvão fez seus votos no Convento São Boaventura, na cidade de Macacu, no estado do Rio de Janeiro. Acrescenta ao seu nome o “Sant’Anna” por devoção particular. Junto dos votos, prometeu ser um defensor da Imaculada Conceição. Prática muito comum entre os franciscanos.
Frei Galvão tinha apenas 23 anos quando foi ordenado presbítero. O local de sua ordenação foi o Convento Santo Antônio, no Largo da Carioca, Rio de Janeiro (capital). Como neo-presbítero celebrará as primícias em Guaratinguetá, na Matriz Santo Antônio. Mas o local de sua atuação será na capital de São Paulo, no convento São Francisco.
Era 9 de novembro de 1766 quando Frei Antônio de Sant’ Anna Galvão escreveu sua carta de consagração à Virgem Imaculada. Num gesto de particular radicalidade extraiu sangue do próprio peito, embebedou a fina caneta bico de pena em seu próprio sangue e assinou a cédula (carta) consagrando-se perpetuamente a Imaculada Conceição. Neste voto privado, sua maior declaração de amor e pertença à Maria. O frade franciscano declara sua submissão total à Mãe de Jesus como devoto escravo.
Assim que foi ordenado sacerdote no Rio de Janeiro, Frei Galvão foi transferido para a cidade de São Paulo. A partir dessa data os paulistanos terão consigo o santo por 60 anos até a sua partida para o Reino dos céus. Sua missão consistia em ser confessor, pregador e porteiro do importante convento São Francisco, centro.
Frei Galvão era dado às letras. Grande orador, poeta. Há fatos que comprovam sua fina vida intelectual. Primeira, sua ordenação em tempo mínimo de 23 anos. A segunda realidade, sua nomeação como porteiro. Frei Galvão também era um insigne poeta, chegando a ser um dos membros da primeira Academia Paulista de Letras, também conhecida como “Academia dos Felizes”. Conta seus escritos biográficos, na ocasião da fundação dessa academia literária, em 25 de agosto de 1770. Frei Galvão era conhecido por seus dotes literários e de orador famoso, por seu amor à natureza e às letras, notadamente à poesia. Nessa ocasião, o franciscano teria declamado, em latim, 16 peças de sua autoria, todas dedicadas a Sant’Ana, além de dois hinos, uma ode, um ritmo e 12 epigramas.
Na cidade de Guaratinguetá morria Antônio Galvão. Homem de valorosas virtudes. Franciscano em atitudes. Feliz esposo e grande pai. Portugal foi o local do seu nascimento para a vida; Brasil o terreno onde ele encontrou grandes tesouros.
Muito próximo ao Convento São Francisco, algumas mulheres dedicavam suas vidas às regras da vida consagrada. Dada sua atuação como confessor, Frei Galvão foi convidado pelo bispo de São Paulo para ser o guardião e confessor das irmãs. Esse contato contínuo possibilitará duas grandes obras. A primeira, fazer nascer naquele mesmo espaço o estilo de vida das concepcionistas; segunda - essa material - a criação do futuro Mosteiro da Luz.
O Mosteiro da Luz é a obra material de Frei Galvão. Seu empreendimento contou com a participação de algumas pessoas. A data da fundação deste Recolhimento é dia 2 de fevereiro, dia dedicado a Nossa Senhora da Luz. Por esse feito, ele recebeu no ano de 2016 o título de Patrono da Engenharia Civil.
Madre Helena Maria do Espírito Santo foi uma consagrada dotada de revelações místicas. Em uma de suas experiências transcendentes, Jesus pedia a Irmã que fundasse um Recolhimento para mulheres dedicadas à vida de oração. Frei Galvão foi o seu confessor. A ele coube a interpretação visões místicas da religiosa. E por fim, nosso frade foi quem concretiza o pedido de Jesus, por meio de sua serva. Irmã Helena.
Frei Galvão encontrou-se como único sustentáculo das Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência. Neste ano, o novo Capitão-General de São Paulo, homem inflexível e duro, retirou a permissão e ordenou o fechamento do Recolhimento.
Frei Galvão aceitou com fé e também as Recolhidas obedeceram; mas não deixaram a casa, resistindo até os extremos das forças físicas. Depois de um mês, graças à pressão do povo e do Bispo, o recolhimento foi reaberto.
Frei Galvão foi nomeado comissário visitador, isto é, dirigente máximo da Ordem Terceira (de leigos e leigas) no que dizia respeito aos assuntos eclesiásticos. Era designado pelo prelado provincial. Superior imediato no plano espiritual, que os orientaria nos exercícios espirituais condizentes com aquela regra.
Dado a sua competência e sua vida exemplar, Frei Galvão foi convidado a exercer o ofício canônico na Comunidade de seus irmãos do interior do estado. Essa função era exercida em nome do provincial (superior). Nesta visita deveria confortar, admoestar; e se necessário, com humildade e caridade, corrigir os irmãos. O visitador vai conhecer e examinar as condições e as iniciativas dos confrades naquele local de sua missão. Nesse caso em Itu (SP).
A repetição desse convite atesta a grandeza deste servo de Cristo. O comissário na ordem terceira era eleito em definitivo pelo voto provincial e mais religiosos. As tarefas referentes ao comissário contemplavam os sermões, práticas, profissões de irmãos e outros exercícios espirituais. Também tomava parte nas reuniões da mesa.
Governador da capitania em 1780 mandou embora frei Galvão depois de religioso ter defendido soldado condenado à forca. Porém a pressão de fazendeiros e seus escravos, que armados cercaram a casa de Martim Lobo de Saldanha, fez com que ele revogasse a ordem de exílio.
É nomeado Mestre de Noviços e Presidente no Convento de São Boaventura de Macacu, mas o Bispo de São Paulo e a Câmara conseguem impedir que ele se afaste da cidade.
A vida das mulheres consagradas que viviam no Mosteiro da Luz, exigia diretrizes e normas para darem continuidade. Frei Galvão, responsável pelas irmãs, fez nascer o primeiro Estatuto. Isso daria às irmãs uma estabilidade.
As religiosas da Luz, até então instaladas em construções provisórias, transferem-se para o novo e amplo edifício, projetado e construído por Frei Galvão, que dá às religiosas os Estatutos por ele elaborados.
Na capital paulistana, mais uma vez o Governo Provincial (superiores) quis o religioso à frente do Convento São Francisco e seus frades.
Enquanto ele ainda vivia, em 1798 o Senado de São Paulo definiu-o “homem da paz e da caridade”, porque era conhecido e procurado por todos como conselheiro e confessor, além de o franciscano que aliviava e curava os doentes e os pobres, no silêncio da noite.
É eleito Guardião (superior) do Convento de São Francisco, na capital paulista. O Bispo e a Câmara Municipal, receosos de que as novas funções o impeçam de prosseguir suas atividades no Recolhimento da Luz, intercedem para que ele seja dispensado da nomeação. Mas os superiores o mantém como Guardião e Capelão da Luz.
Recebe o privilégio de definidor (Conselheiro do Provincial) sem precisar ausentar-se de São Paulo.
Depois de 28 anos de de muitos e incansáveis trabalhos é inaugurado e abençoado o Recolhimento da Luz.
É nomeado Visitador do Convento franciscano de Taubaté e de Itu. Nesta visita deve confortar, admoestar e, se necessário, com humildade e caridade, corrigir os irmãos. O visitador vai conhecer e examinar as condições e as iniciativas dos confrades.
Nomeado Visitador Geral e Presidente do Capítulo provincial de sua Ordem, mas renuncia a esses cargos por motivos de saúde.
Recebe a nomeação para Visitador dos Conventos do Sul. Vai em Missão a Piraí do Sul. Certamente não conclui dentro do tempo previsto. Renuncia ao cargo por alguma razão. Nesse período o frade já possui certa de 69 anos.
O culto a Nossa Senhora das Brotas em Piraí do Sul tem início em 1808, quando o Frei Antônio de Sant’Ana Galvão. Ao chegar às margens do Rio Piraí, decidiu ficar alguns dias no povoado, pregando e atendendo ao povo da região. Enquanto permaneceu na região, ficou na casa de dona Ana Rosa Conceição de Paula, e ao se despedir da casa a qual foi acolhido, deu de presente uma estampa de Nossa Senhora das Barracas com a dedicatória: “Lembrança do Frei Galvão”. Nasce com esse presente a devoção à Nossa das Brotas e mais tarde, seu Santuário.
Não muito conhecido é o Recolhimento de Santa Clara, fundado em Sorocaba (SP) em 1811. Essa é a segunda obra material do frade. Segundo a história, ele permaneceu cerca de 11 meses neste local, trabalhando incansavelmente em mais um local para as consagradas.
Já muito debilitado e de idade avançada, retorna para a capital paulista. As irmãs e os paulistanos acolhiam o seu santo. Nessa altura, Frei Galvão tinha uma permanência maior no Mosteiro da Luz, em relação ao Convento São Francisco, residência dos frades.
Em 23 de dezembro, faleceu no Mosteiro da Luz, em São Paulo. Morre aos 83 anos de idadeSeu corpo passou a descansar aos pés do altar mor da Igreja do Mosteiro. Sua fama de santidade era de conhecimento de muitos. Imediatamente passou a ser um local de peregrinação.
Do ano de 1938 até o ano de 1997, bispos, frades, religiosos, familiares e o povo de Deus, empreendem o processo de beatificação de Frei Galvão.
Nesse período, já havia entre as pessoas algumas biografias de Frei Galvão, exaltando suas virtudes. Os processos para a sua beatificação foram empreendidos pelos bispos, confrades e admiradores. Todos realizados conforme os indicativos da Santa Sé. Em Roma, aprovação, com louvores, da venerabilidade de Frei Galvão, que assim se tornou Venerável
Aprovação do milagre de Frei Galvão que curou a menina Daniella Cristina da Silva, 4 anos, de São Paulo. Em Roma, acontece a Beatificação de Frei Antônio de Sant’Ana Galvão pelo Papa João Paulo II. O Papa João Paulo II, no ato da Beatificação, declara o dia 25 de Outubro, como o Dia Litúrgico do Beato Frei Galvão, dando-lhe o título de “Homem da Paz e da Caridade”
Tendo feito todos os caminhos que comprovaram a santidade de Frei Galvão, no dia 11 de maio de 2007, na cidade de São Paulo (Campo de Marte), o frade franciscano foi considerado o primeiro santo nascido em terras brasileiras. Festa para todos os devotos de Frei Galvão, alegria para a Igreja do Brasil. Quem presidiu a cerimônia foi o Papa Bento XVI. Detalhe considerável: Frei Galvão foi canonizado fora do Vaticano. Fato único, até então. Viva o Primeiro Santo Brasileiro.
Em reconhecimento às contribuições excepcionais de São Frei Galvão, a data foi oficializada pela Lei Nº 13.359, de 17 de novembro de 2016, como o “Dia Nacional do Patrono da Construção Civil e dos Profissionais da Engenharia Civil”.