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A SALVAÇÃO CRISTÃ

Cardeal Raniero Cantalamessa aborda a temática da Salvação para o 3° Domingo do Advento: "A salvação, com efeito, é para nós um dom gratuito de Deus que precede e excede toda a expectativa humana".

Notícias do Santuário

15.12.2023 - 08:00:00 | 9 minutos

A SALVAÇÃO CRISTÃ

Esta liturgia nos oferece a oportunidade de completar o conhecimento "daquele que deve vir", iniciado domingo passado. Aos títulos de "Cristo" e de "Filho de Deus", com os quais o evangelista Marcos se refere a Jesus, acrescenta-se o título de "Salvador", que se refere a seu agir, isto é, à salvação. O nome completo de Jesus é, portanto, "Jesus Cristo, Filho de Deus e Salvador". Assim gostavam de chamá-lo as primeiras gerações cristãs. Ficou-nos uma recordação daquele uso: o símbolo do peixe, que vemos frequentemente representado em catacumbas na arte paleocristã. Em grego, peixe se escrevia ichthys, cujas letras constituem, exatamente, as iniciais das palavras: Jesus Cristo Filho de Deus Salvador. Era um modo de se declararem e se reconhecerem discípulos de Jesus com um simples sinal, sem colocar em risco a vida de uns e outros.

Todos os domingos do Advento se caracterizam pela insistência sobre o tema da salvação; mas o de hoje o faz de modo particular. Das várias leituras se eleva como que um hino à salvação. Na primeira leitura, o profeta Isaías canta: Exulto de alegria no Senhor e minha alma regozija-se em meu Deus. No salmo responsorial, ouvimos estas palavras ecoando no Magnificat de Maria: Meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador.

Sabe-se que Isaías e Maria falam aqui em nome de Sião e da Igreja; é a humanidade redimida, ou à espera da redenção, que expressa este hino à salvação que vem de Deus. Também “o alegre anúncio” que deve ser levado aos pobres dos quais se ouve falar nas leituras de hoje (primeira leitura, salmo responsorial, aclamação ao Evangelho) é o anúncio da salvação, o Reino. O trecho evangélico diz que João Batista veio "como testemunha da luz", isto é, como anunciador da salvação: E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho, para dar ao seu povo conhecer a salvação, pelo perdão dos pecados (Lc 1, 76s).

Se nós também, como João Batista, queremos ser-lhe testemunhas de salvação, devemos antes desejá-la como a desejaram os profetas, conhecê-la e saborear-lhe todas as riquezas; devemos, sobretudo, aprender a conhecer a fonte da qual ela nasce: Jesus Cristo, Filho de Deus e Salvador.

"... a salvação, com efeito, é para nós um dom gratuito de Deus 
que precede e excede toda a expectativa humana...". 

Há duas maneiras possíveis de falar da salvação: uma vem de Deus, isto é, da proposta de salvação que sobre da terra. Nós cristãos devemos sempre partir da primeira, a salvação, com efeito, é para nós um dom gratuito de Deus que precede e excede toda a expectativa humana; é algo que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (1Cor 2, 9). Para conhecer a salvação devemos partir do Salvador, isto é, de Jesus. 

Pouco antes do aparecimento de Jesus, o povo de Israel se apresenta aos olhos do historiador com um imenso cabedal de espera. Todos esperaravam que finalmente Deus cumprisse as promessas de libertação, de paz, de liberdade, de prosperidade e de alegria feitas por meio dos profetas dos tempos antigos. A história de Jesus de Nazaré se insere nesta espera de salvação; é seu cumprimento: Completou-se o tempo (da espera) e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho (Mc 1,15). O próprio nome de Jesus é anúncio de salvação: Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados (Mt 1,21).

A comunidade primitiva, voltando a meditar em seguida a vida terrena de Jesus, a vê toda como obra de salvação. Valor salvífico adquirem as "curas corporais" por ele operadas (dezesseis vezes aparece nestes contextos o verbo sôzo), sinal de que a salvação que se realiza nele abrange o homem por completo, seu corpo e sua alma. Valor salvífico contém "a pregação de Jesus": com efeito, ela proporciona um perfeito conhecimento da vontade de Deus esperada como um dos maiores bens messiânicos (Ele nos ensinará seus caminhos). Mas é especialmente no "mistério pascal" da morte e ressurreição que se realiza o significado salvífico de Jesus. Nele, o Novo Testamento descobre o novo Êxodo, a Nova Aliança, a redenção, a remissão dos pecados: tudo aquilo, enfim, que o Antigo Testamento tinha esperado e simbolizado com o rito da Páscoa e com a figura do Servo de Javé.

"...Em nenhum outro há salvação!, 
exclama o apóstolo Pedro (At 4,12)".

A Igreja apostólica não fala, porém, abstratamente da salvação; na base de tudo o que ela diz está a experiência concreta, carismática da salvação em Cristo: Em nenhum outro há salvação!, exclama o apóstolo Pedro (At 4,12). E Paulo acrescenta: Pela fé temos a paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Por ele é que tivemos acesso a essa graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança de possuir um dia a glória de Deus; fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, com muito mais razão, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida (cf. Rm 5, 1-11; 8,23). Tudo isto graças a Jesus Cristo, que já é chamado habitualmente nosso Salvador (2Tm 1,10, 2Pd 1,1), o Salvador do mundo (1Jo 4,14).

Este é o dom de salvação oferecido por Deus à humanidade em Jesus Cristo. Agora podemos confrontar com ele as expectativas de salvação que irrompem do coração do homem. Perguntamo-nos: esta proposta, atualmente, tem o que dizer ao homem? Corresponde deveras aos seus desejos?

A ideia que o homem contemporâneo tem de salvação está fortemente influenciada por duas propostas que, embora globais, partem do próprio ser humano: "a libertação da necessidade" (ou da opressão econômica) do marxismo e "a libertação do desejo" (ou do inconsciente) de Freud. Libertação tornou-se, em pouco tempo, palavra mágica; fala-se de libertação dos condicionamentos socioeconômicos, da opressão de regimes políticos totalitários, da libertação da mulher, da libertação sexual etc. O conceito de libertação, mais do que o de salvação, parece interpretar de modo mais concreto e dinâmico o anseio profundo do homem. Muitos cristãos tentaram por isso reinterpretar nesta chave a mensagem bíblica. Não sem fundamento, de resto, porque a salvação operada por Jesus, ao lado de uma libertação espiritual do pecado, da lei e da morte (cf. Rm 5,20s; 6,18; 7,6), exige e compreende também a libertação material da fome, da injustiça, da doença.

"... A salvação operada por Jesus, ao lado de uma libertação espiritual do pecado, da lei e da morte exige e compreende também a libertação material da fome, da injustiça, da doença".

A Igreja, contudo, não pode contentar-se com a palavra libertação para expressar toda a esperança da salvação de que é portadora. Devemos procurar uma palavra nova, tão compreensiva como a palavra salvação, mas menos desgastada pelo uso; e ao mesmo tempo dinâmica como libertação, mas menos setorial e ambígua do que esta.

Essa palavra existe, e é uma das mais comuns na Bíblia; de qualquer forma, trata-se da palavra que o evangelista João usa constantemente lá onde os outros autores usam a palavra salvação. É a palavra "vida"! Vida está para salvação como o concreto para o abstrato e o verdadeiro para a verdade. Tudo o que Deus quer para o homem resume-se na palavra vida: Eu sou o que vive, diz o Senhor; não quero a morte, mas a vida (cf. Ez 33,11); "A glória de Deus" - escreveu Irineu - "é o homem vivo". Mas, também situando-nos do ponto de vista do homem há outra coisa que fale mais eficazmente ao seu coração do que vida? O que quer o homem a não ser viver; de que ele quer ser libertado a não ser daquilo que mortifica a vida, isto é, da necessidade, da dor, do pecado e da morte? Pois hem, Jesus se apresentou como aquele que quer e pode dar a vida ao homem: Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância (Jo 10,10). Sua carne, seu ser, é todo pro mundi vita, isto é, para que o mundo tenha vida (Jo 6,52).

"A glória de Deus é o homem vivo". 

Trata-se de uma vida que tem sua realização suprema na esfera do Espírito, mas que se funda, sem solução de continuidade, na vida biológica, psíquica e social do homem. Cristo multiplica o pão para a vida do corpo, depois dá seu corpo para a vida da alma. É uma vida "eterna" que corresponde ao incontrolável desejo do homem, para quem - como dizia Santo Agostinho - não basta "viver bem", porque quer "viver sempre". Eis a promessa que ele nos fez: a vida eterna (1Jo 2,25).
Devemos descobrir a força deste anúncio de vida para propô-lo ao homem de hoje que anseia muito por ele. Nossa sociedade atual está ameaçada por fermentos de morte, a começar do ambiente ameaçado pela morte biológica, e indo até a vontade de morrer, que se expressa na droga e no desejo de causar a morte, manifestado em toda espécie de violência. A eficácia e a importância da salvação, anunciada pelos cristãos, mede-se hoje neste terreno, isto é, na capacidade de contrapor-se a esta lógica de morte, em nome de Jesus Cristo Filho de Deus e Salvador que doou sua própria vida ao mundo.

A Igreja tem razão de alegrar-se neste tempo do Advento por "estar revestida das vestes da salvação, envolvida com o manto da justiça". Mas isto não é suficiente; ela deve fazer germinar a salvação diante de todos os povos "como um jardim faz germinar as sementes"; deve ser fermento de vida entre os homens. É nosso dever de cristãos. O Advento nos faz recordar e a Eucaristia nos renova a certeza, para que saibamos proclamá-la aos irmãos que estão vivendo na tristeza, "sentados à sombra da morte". 

"Fazer germinar a salvação diante de todos os povos 
como um jardim faz germinar as sementes". 

Fonte Cardeal Raniero Cantalamessa, OFMCap. In: O verbo se faz carne: Reflexões sobre a Palavra de Deus - Anos A, B e C.
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